O cuidado de minha poesia aprendi foi de mãe, mulher de pôr reparo nas coisas, e de assuntar a vida.
A brandura de minha fala na violência de meus ditos ganhei de mãe, mulher prenhe de dizeres, fecundados na boca do mundo.
Foi de mãe todo o meu tesouro veio dela todo o meu ganho mulher sapiência, yabá, do fogo tirava água do pranto criava consolo.
Foi de mãe esse meio riso dado para esconder alegria inteira
e essa fé desconfiada, pois, quando se anda descalço, cada dedo olha a estrada.
Foi mãe que me descegou para os cantos milagreiros da vida apontando-me o fogo disfarçado em cinzas e a agulha do tempo movendo no palheiro.
Foi mãe que me fez sentir as flores amassadas debaixo das pedras; os corpos vazios rente às calçadas e me ensinou, insisto, foi ela, a fazer da palavra artifício arte e ofício do meu canto, da minha fala.
Conceição Evaristo
FELIZ DIA DAS MÃES!
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