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Fala SINTET-UFU | Racismo ambiental e a cidade de Uberlândia | 01 de março de 2023

(Raissa) Olá, companheiras e companheiros ouvintes da Universitária FM, eu sou Raissa Dantas e está no ar o FALA SINTET-UFU.

Você sabe o que é o chamado racismo ambiental? Nas últimas semanas, especialmente após o desastre que aconteceu no litoral norte de São Paulo, o conceito tem tomado conta dos debates. Convidamos Amanda Gondim, que é advogada e vereadora em Uberlândia, para conversar com nossos ouvintes sobre esse tema e, ainda, sobre como a cidade de Uberlândia e sua população vivencia o racismo ambiental. Seja bem-vinda, Amanda.

(Amanda) Olá, agradeço o convite pra falar de um tema tão importante e urgente que é o racismo ambiental, que se correlaciona muito com diversos desastres naturais que nós vemos acontecer, em especial essa tragédia em São Sebastião, no litoral de São Paulo, que deixou aí centenas de mortos, milhares cem em casa.

Antes de tudo gostaria de começar colocando um ponto importante que é pra que a gente possa entender o que significa o racismo ambiental. Pra que a gente possa falar de políticas públicas relacionando a pauta e suas consequências, se nós continuarmos com uma política de depredação do meio ambiente, sem a compreensão de que estamos vivendo de fato uma emergência climática a nível mundial.

Essa expressão vem dos anos 1970 e é atribuída a Benjamin Chaves, um homem negro que lutou ao lado de Martin Luther King, em um bairro americano em que a sua população era mais majoritariamente negra, uma empresa começou a despejar rejeitos da cidade no local durante anos com o aval do governo e diante vários protestos, lutas, de prisões, o movimento conseguiu romper barreiras e ganhou um espaço nos meios de comunicação, tornando então essa luta uma luta do povo negro que se disseminou aí e levou a várias denúncias de causa semelhante em todo o país. E dentro desse espectro, nós entendemos que o assunto é um recorte que engloba outros tipos de racismo como estrutural, institucional e até o fato da necropolítica né? Que é essa política de Estado de também colocar as pessoas indesejáveis, né, indesejadas, à margem socialmente e com condições de habitação, né, o direito à moradia, que é uma garantia fundamental, em locais precarizados e em locais com risco e questões que realmente chão de um viés discriminatório.

Historicamente nós vivemos em um país discriminatório, que desde cedo se agrega e trata de forma desigual a sua população e nós vivemos em um país que sua base é escravocrata, né? Na sua constituição. E coloca sua população negra, periférica, afastada dos centros urbanos e essas pessoas vulneráveis socialmente sem uma infraestrutura de fato, de moradia, infraestrutura urbana.

Em Uberlândia, por exemplo, nós temos diversos núcleos irregulares e por isso nós temos aí tantas favelas de periferias em locais de risco. Locais estes que não são de um interesse da burguesia de estado porque geralmente essas áreas tem uma topografia irregular e complexa de se chegar. E a partir dessa ideia é que se constata a necessidade de um planejamento urbano de inclusão que trabalha as desigualdades sociais e de qualidade de vida. Além de oportunidade pra população vulnerável, em sua maioria negra, aí entendemos isso como uma população que mais sofre com a questão das mudanças climáticas, porque nós falamos aí de desastres naturais cada vez mais intensos e com a falta de políticas de mitigação do clima e preservação do meio ambiente e aqui em Uberlândia o não é diferente. Nós vemos claramente os locais mais afetados sendo em sua maioria os bairros da periferia onde a população carece de infraestruturas básicas como asfalto, saneamento básico e áreas verdes que possam servir tanto como lazer e tanto como o ambiente, que auxiliem aí na drenagem urbana. A cidade sofre todos os anos com as chuvas de intensos e periódicas e continua investindo em mais asfalto e viaduto, não planejando o escoamento de toda a água que chega até as vias e alagando sempre os mesmos locais e atingindo drasticamente a população também mais vulnerável.

Ao longo do nosso mandato nós tivemos diversos projetos relacionados a pauta ambiental e também a questão climática né? Pra abordar legislativo de uma forma técnica e necessária. Com projetos de criação de parques lineares, que foi a o projeto de indicação pra criação do córrego do Parque do Córrego Mogi, pra fomentar e preservar o meio ambiente também os córregos. Projeto de criação de um plano municipal de mudanças climáticas. Nós conseguimos aprovar um projeto pra um dia de conscientização e reutilização do uso de plásticos, além das questões de hortas urbanas. Também nós temos um projeto nesse sentido e as diversas audiências sobre a questão dos assoreamentos dos córregos da nossa cidade os parques existentes sobre a questão das queimadas as moradias de qualidade com infraestrutura adequada população que vive numa situação de vulnerabilidade social dentro desses núcleos irregulares da cidade e aí nós temos vários desafios ainda a ser enfrentados e entendemos que essa é urgência é realmente algo que nós precisamos estar pautando sempre.

É necessário um investimento em políticas públicas sérias pra que a gente consiga reverter o que nós mesmos né, enquanto sociedade, promovemos. Obrigada mais uma vez por ceder esse espaço e podem contar sempre com o nosso mandato nessa luta.

(Raissa) Amanda, nós agradecemos muito a sua participação. E esse foi o FALA SINTET-UFU dessa semana! Você pode conferir mais informações em nosso site e em nossas redes sociais. Ótima semana a todas e todos, se cuidem e até o próximo programa!

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