PROGRAMA FM UNIVERSITÁRIA – 27 de setembro de 2023
(Raissa) Olá, companheiras e companheiros, aqui é Raissa Dantas e nesse Fala SINTET-UFU a gente conversa sobre o capital e a questão climática. Sintonize suas lutas.
Nos últimos anos, o Brasil e o mundo têm enfrentado um alarmante aumento nas temperaturas, um fenômeno inegavelmente relacionado ao aquecimento global. Desde a última semana o Brasil vive num estado de alerta sobre altas temperaturas em grande parte do seu território. Os efeitos dessas temperaturas extremas são sentidos em diversas esferas da vida, desde a agricultura até a saúde pública.
A luta contra as mudanças climáticas vai ser determinante na constituição do futuro da humanidade no planeta Terra. Neste sentido, o SINTET-UFU entende a necessidade de trazer este assunto à centralidade dos nossos debates. Convidamos Wallace Alves, que é engenheiro ambiental e sanitarista, para comentar sobre esse assunto com nossos ouvintes.
Seja bem-vindo, Wallace.
(Wallace) Ei, Fala SINTET! Todo mundo curtindo esse calorzão brabo? Pois é, não tá fácil, ainda mais aqui na nossa Uberlândia. Espero que esteja todo mundo se cuidando, se hidratando e se abrigando na medida do possível, porque sempre que acontece esse tipo de fenômeno que altera as temperaturas ao extremo, seja pra cima ou pra baixo, nós ouvimos aí os cientistas, os jornalistas divulgarem sobre fenômenos que acontecem naturalmente na nossa atmosfera, como El Niño e La Niña.
No nosso caso, a gente vivendo esse fenômeno do El Niño, que aumenta a temperatura das correntes oceânicas e, com isso, faz uma pressão maior de temperatura, sobretudo nos trópicos do planeta. São eventos naturais que acontecem sazonalmente na nossa atmosfera e, a longo prazo, nós também temos eventos dessa mesma natureza que acontecem ao longo de eras geológicas, como o próprio aquecimento e resfriamento nas eras glaciais do nosso planeta. Isso tudo são fenômenos naturais que acontecem, mas puxa uma discussão muito importante, muito pertinente, que são das mudanças climáticas. Elas são naturais, mas o ser humano vem com as suas atividades potencializando muito e acelerando esse tempo de resposta da nossa atmosfera e do nosso clima.
Isso faz com que eventos como esse que a gente está enfrentando agora, da onda do calor, fiquem cada vez mais extremos. Isso também se reflete naquelas flutuações em relação ao balanço hídrico. Então, quando vai ter crise hídrica ou quando vai ter enchente? Esse ano mesmo, no sul do Brasil, a gente viveu e está convivendo ainda com enormes tragédias causadas por esse tipo de mudança extrema no clima.
E qual é a relação dessas mudanças com o nosso modo de organização social, com o nosso sistema de produção, que é o sistema de produção capitalista? Essa discussão é muito importante, principalmente para a gente entender se é possível alcançar sustentabilidade dentro de um sistema que é baseado na exploração não só do trabalho, que é a famosa mais -valia que os nossos teóricos socialistas já muito bem desenharam, mas também a exploração dos nossos territórios e da matéria -prima. E é justamente nesse sentido que o setor, chamado setor produtivo, age para que a gente não consiga ter regulamentações, leis, ativos de proteção para essa superexploração em nome do lucro. E isso influencia diretamente nas nossas mudanças climáticas.
Então, o desmatamento é um dos principais fatores que faz mudar a conjuntura atmosférica para que a gente, por exemplo, não tenha o regime de chuvas da maneira que naturalmente acontece naquela dinâmica ecológica. Então, algumas regiões passam a não ter mais chuva, enquanto outras passam a ter excesso de chuva. E isso é um efeito cascata porque nós vivemos em um sistema. Esse planeta é um sistema.
Então, dentro da lógica do sistema capitalista, que pensa o lucro como algo infinito, que pensa a riqueza como algo infinito, mas não olha para a realidade de que os recursos naturais não são infinitos. Todos eles, embora tenham um ciclo, eles precisam de um tempo de permanência para se renovar e a grande maioria deles nem se renova no nosso calendário de vidas humanas. Não é possível que a gente veja essa renovação. Então, a gente tem que repensar primeiro esse modo.
Não tem como a gente cair, continuar caindo, naquela propaganda do capitalismo verde sobre os acordos e as propostas tímidas de recuo dessa superexploração dos nossos territórios. Enquanto a gente continuar acreditando nesse tipo de farsa jurídica, nessas cúpulas da ONU que fecham acordos muito tímidos, nesses indicadores que muitas vezes são maquiados em relação à qualidade ambiental, nós não teremos efetivamente a luta para que essa situação climática seja de fato evitada. E a gente tem que lembrar que, assim como o que nós estamos vivendo agora está muito pior para quem é pobre, para quem é classe trabalhadora, para quem vive debaixo da telha cimentícia, naquele calor, que não tem acesso ao mar acondicionado, que não tem acesso nem à água, nem a saneamento básico em seu lugar, também não vai ter acesso à justiça climática. São essas as vidas que correm perigo pela escassez de alimento, pela instabilidade geológica, pela falta ou excesso de chuva e por esse clima ficar cada vez mais caótico.
São essas pessoas que não vão ter resiliência para conseguir enfrentar essa nova realidade. Então a consciência é coletiva e nós precisamos conhecer as principais ferramentas para enfrentar esse cenário.
(Raissa) Muito obrigada pela participação, Wallace. Esse foi o FALA SINTET-UFU dessa semana! Você pode conferir mais informações em nosso site e em nossas redes sociais. Ótima semana a todas e todos e até o próximo programa!
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