Por Raissa Dantas
Trabalhadores do HC-UFU demandam melhores condições de trabalho e ampliação da equipe de trabalhadores
Na tarde da última quinta-feira, 17 de dezembro, o SINTET-UFU realizou uma Assembleia Setorial de trabalhadores e trabalhadoras do Hospital de Clínicas da (HC) da UFU. A atividade teve início às 14h e ocorreu no Centro de Convivências do Umuarama. O sindicato prezou por todos os protocolos sanitários de distanciamento, disponibilização de álcool 70 e álcool em gel, bem como a solicitação do uso de máscara pelos presentes. A mesa da assembleia foi coordenada por Robson Luiz, secretariada por Maria Cristina Lima e Silva, relatada por Alexandre Igrecias e contou, ainda, com as presenças de Laís Bertoldi, enfermeira fiscal do Conselho Regional de Enfermagem de Minas Gerais (Coren-MG) Subseção de Uberlândia, além de Hélder Silveira, Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (PROEXC), que representou a Gestão Superior. A direção do HC-UFU foi convidada para estar na mesa, mas não compareceu, respondendo com um documento que se comprometeria a receber o sindicato em outra oportunidade.
Situação de trabalho no HC-UFU é insustentável
O quadro geral de avaliações, de relatos e de críticas apresentadas durante a assembleia ilustrou um panorama trágico, tanto para os trabalhadores e trabalhadoras, quanto para o próprio HC-UFU e os pacientes atendidos. Muito foi relatado sobre o dia a dia dos servidores, que vivenciam o drama de atuar na linha de frente do enfrentamento à pandemia de COVID-19, somado à falta de segurança no trabalho, ao acúmulo de funções, ao subdimensionamento e aos quadros de adoecimento físico e emocional, como agravamento de depressão, esgotamento e estresse. Muitos desses trabalhadores são do grupo de risco e trabalham num ambiente que não possui fluxo de atendimento para profissionais suspeitos de COVID-19, solicitação esta realizada no início da pandemia.
Norton Nunes, auxiliar de enfermagem no HC-UFU, relatou que no início da pandemia houve “falta de insumo, falta de equipamento e um grande sofrimento por não ter material pra trabalhar. O SINTET-UFU chegou a doar equipamentos que nós solicitamos, porque houve um momento em que tivemos que trabalhar com máscara de pano para atender pacientes com coronavírus. Hoje a situação está mais normalizada, mas não diria que regularizada. No Pronto Socorro ainda há muita insegurança pra se trabalhar”. Outros trabalhadores relataram um quadro de colegas com crise de choro e uma percepção de abandono, pois não há nem equipe de psicologia para acompanhar esses trabalhadores da linha de frente que tem adoecido por esgotamento.
Outra questão grave relatada foi com relação ao assédio moral hierárquico acometido contra auxiliares de enfermagem, que chegam a ouvir que se não fizerem determinados procedimentos naquele exato momento serão responsabilizados por quaisquer complicações. Isto tudo num cenário em que faltam trabalhadores e que um único profissional precisa cobrir dois a três setores simultaneamente. O cenário poderia ser sintetizado como de: subdimensionamento do quadro de trabalhadores, super lotação do Pronto Socorro, pressão psicológica por parte da administração pela aplicação de uma política de quantidade, e não de qualidade. Diversos presentes cobraram o acompanhamento e a agilidade do Coren-MG, pois o tempo tem agravado o drama daquelas trabalhadoras e trabalhadores, que precisam de condições efetivas para realizarem seus ofícios com qualidade e segurança.
EBSERH e pactuação de entrada no HC
Uma questão frequente nas falas dos presentes, trabalhadores do hospital, ou coordenação do SINTET-UFU, foi com relação à crise que se agrava com a mudança de gestão no HC-UFU, que vem sendo muito pouco discutida. Robson Luiz relatou que “a EBSERH fez planos de metas pra este hospital sem conhecer nosso HC-UFU, com uma visão puramente mercadológica da saúde e que traz um impacto profundo na saúde do trabalhadores, na estrutura e na função do hospital. De um ano e meio pra cá o HC tem sofrido muito por questões extra instituição. Este hospital foi usado como tapete para a saúde pública de Uberlândia com interesses eleitoreiros. Esta pactuação de entrada no HC que é muito danosa pro trabalhador”. Na tarde de quinta (17) haviam 46 macas nos corredores do hospital, que hoje está com duas enfermarias fechadas e uma outra inutilizada por questões de infraestrutura.
Pontuado por Robson, a questão da chamada “vaga zero” foi muito questionada pelos presentes, que não entendem quais os critérios para definição destes pacientes. “Tudo que chega na porta é vaga zero e é preciso colocar pra dentro do hospital. É necessário repactuar esta entrada de pacientes no HC, que desafoga as unidades municipais de saúde e estrangula o HC-UFU. Precisamos que a Gestarão Superior chame para uma reunião a Superintendência da EBSERH, a Secretaria Municipal de Saúde, os Órgãos e Conselhos de classe e refaça esta pactuação de entrada no HC, porque da maneira como está, não é possível continuar”, frisou o coordenador.
O concurso, as linhas hierárquicas e as promessas da EBSERH foram questionadas pelos presentes, que relataram o cenário caótico vivido com a falta de transparência na troca de gestão e na chegada da EBSERH. “Não sabemos nada da EBSERH, não sabemos a quem recorrer, mas recebemos ordens (deles) o tempo todo. Estamos totalmente perdidos” afirmou Kelly Nascimento, enfermeira no HC-UFU. Sobre os concursos da UFU e da EBSERH, a situação é grave, pois a empresa não empossou os trabalhadores que passaram no concurso, gerando déficit de trabalhadores, e dos concursos da UFU, aquelas trabalhadoras e trabalhadores da área da saúde empossados não vão atuar no HC-UFU. Norton Nunes relatou que “11 técnicos de enfermagem foram empossados e não vão pro HC. Temos 9 enfermeiros do concurso 025 aguardando vaga para tomar posse. Todos esses poderiam estar ajudando e muito neste momento de pandemia no Hospital, mas por questões da EBSERH não podem ir pra lá”.
Wanderson Fagundes, coordenador geral do SINTET-UFU e assistente social no HC-UFU, contextualizou a crise econômica que vivemos e as consequentes perdas do poder de compra e de direitos, que ocasionam a saída e/ou perda dos convênios e a sobrecarga do SUS. Fagundes questiona “qual esforço da direção do HC em fazer a interlocução e buscar soluções pra situação do HC? Será que a Secretaria Estadual de Saúde de MG e as Secretarias Municipais de Saúde das cidades atendidas pelo HC estão cientes da crise que estamos enfrentando neste hospital? O corredor já virou uma Unidade de Internação do Hospital? O Hospital quer se mostrar como autossuficiente, mas isto aqui (HC-UFU) está pedindo socorro, está quase explodindo, estamos precisando de ajuda. O que a Universidade está fazendo como articulação política pra resolver?”
Por fim, grandes debates foram tecidos durante esta Assembleia Setorial, que indicou diversas necessidades de atuação e encaminhamentos. Entretanto, em virtude da indefinição da posse do Reitor eleito, ainda não nomeado por Bolsonaro, não foi possível encaminhar a questão da data para uma reunião entre o SINTET-UFU, a Gestão Superior da UFU e a Direção do HC. Hélder Silveira, que representava a Gestão Superior, se comprometeu em formular um documento relatando ao Reitor todo o panorama apresentado na Assembleia e apresentar a situação formalmente. Assim que o Reitor for empossado, o Pró-reitor e a coordenação do sindicato entrarão em contato para encaminhar uma data de encontro.
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