Projeto Liberdade Viva – Encerramento

Escrito por: Luciana Castro

Abrindo os trabalhos da tarde de segunda-feira, 11, o Grupo Dança de Rua Blacks retratou a trajetória do povo negro – da escravidão até os dias atuais – onde o cenário de discriminação e desvalorização permeia o cotidiano. Os dançarinos adolescentes participam de um trabalho social no Centro de Assistência Fraternidade Universal, no bairro Esperança. São vários projetos, entre eles adança de rua.

Em seguida a palestra“A beleza da mulher negra” realizada pela professora Antônia Rosa, levantou a autoestima das mulheres do auditório. Houve questionamentos sobre a referência de beleza da mulher, caracterizada na sociedade como beleza da mulher branca.Segundo Rosa, a influência da mídia com personagens brancas, magras que acabam com final de prosperidade, se tornam um problema na infância. “O problema do padrão de beleza nessas figuras é o início de uma doutrinação, ensinando estereótipos”, disse Rosa.

A necessidade de aprofundar o debate sobre o racismo estético e suas consequências para as mulheres negras permitiu o depoimento de algumas mulheres com recordações dolorosas da infância. Foram vários relatos de discriminação por causa da cor de pele, cabelo e nariz.

As características físicas como o cabelo crespo, nariz largo e pele escura da mulher negra diante do padrão de beleza da sociedade não é visto como expressão de “meiguice ou fragilidade”, traços considerados tipicamente femininos, segundo Rosa. “Mulheres negras assimilam que são diferentes e sofrem por não se sentirem bonitas”, afirmou. Ao longo da história o corpo da mulher negra foi reduzido à exploração sexual ou trabalhos braçais, “você é forte, tem que aguentar! Quantas vezes nós mulheres negras ouvimos isso”, disse a professora.

A reflexão sobre a feminilidade ainda é um estereótipo confuso e suas raízes permanecem fortes e influentes. Para a palestrante, existem vários exemplos de mulheres negras de sucesso. Filmes que retratam um pouco da história da mulher negra foram indicados como: 12 anos de escravidão e Histórias Cruzadas.

Estiveram presentes: Ismael Marques – Movimento Negro Uberlandense Visão Aberta – MONUVA; Maria Isabel Vieira – Núcleo de Educação das Relações Etnicorraciais –NERER; Gláucia de Fátima Bastos e Maria de Fátima Lucena –Coletivo de Mulheres do PT.

Após a pausa para o café, a teóloga Vanesca Tomé Paulino participante do Movimento Negro Uberlandense Visão Aberta – MONUVA – falou sobre a Marcha das Mulheres Negras que acontece dia 18 de novembro deste ano. Vanesca afirmou a necessidade de políticas públicas para sanar problemas como o da violência contra jovens negros, e apontou que “Uberlândia mata mais jovens negros do que Campinas segundo dados estatísticos”. O Programa Juventude Viva aprovado para a cidade de Uberlândia não saiu do papel, segundo a teóloga, há descaso por parte do governo na maneira de tratar jovens negros envolvidos com tráfico de drogas. Nesse momento fez a comparação entre os de classe média alta e os da periferia.

Nós somos mulheres que queremos ter o direito de construir nossa identidade”, disse Vanesca. O incentivo para a formação da mulher negra éuma das reivindicações, como: sair da vida doméstica, ter independência econômica, voltar para os estudos, participar de cotas raciais.  Refletir sobre a saúde da mulher negra, “queremos ser tratadas como ser humano,muitas vezes médicos não tocam pacientes negras”, protestou Vanesca.

Também foram discutidos: o direito ao lazer, a participar de manifestações culturais e a liberdade da prática religiosa. A Marcha das Mulheres Negras se reúne para debates em rodas de conversa. “Muitas vezes os familiares e amigos não tem tempo para ouvir. Neste espaço as mulheres podem ser ouvidas”, disse a palestrante.

Houve ampla participação nos debates durante todo o evento. Ao final, o projeto socia lPérola Negra do bairro Luizote de Freitas apresentou como resultado de um dos seus projetos uma coreografia de hip-hop.

Altuir Tibúrciocoordenador de políticas sociais antirracismo do sindicato agradeceu aparticipação de todos. O coordenador geral do SINTET-UFU encerrou o eventoressaltando a importância na defesa da igualdade de gênero, raça e cor, e deprojetos sociais que tiram crianças das ruas, para proporcionar um futuromelhor e formar cidadãos.

11 de maio de 2015