O técnico-administrativo enquanto produtor de conhecimento

Por Guilherme Gonçalves

A Universidade Federal de Uberlândia (UFU) é um ambiente rico em diversidade e pluralidade. Dentro da instituição a produção de conhecimento e ciência é estimulada diariamente. No entanto, uma parte da comunidade acredita que todo esse conhecimento é produzido apenas por docentes e discentes, o que não é verdade. Técnicas e técnicos-administrativos em educação (TAE’s) tem produzido cada vez mais estudos que colaboram com o desenvolvimento de diversas áreas.

Um desses técnicos-administrativos é Rick Humberto Naves Galdino, que tem graduação e mestrado em economia pelo Instituto de Economia da UFU, e está lotado no Centro de Estudos, Pesquisas e Projetos Econômico-Sociais (CEPES). Ele é um dos responsáveis por duas publicações que abordam a demografia e a economia do município de Uberlândia. A primeira publicação é “Uberlândia-MG: algumas reflexões sobre as componentes demográficas da Natalidade, Migração e Mortalidade” e a segunda é “Uberlândia: painel de informações municipais 2018”.

Para conhecer um pouco mais sobre o trabalho e desenvolvimento de conhecimento Galdino recebeu a Comunicação do SINTET-UFU para um bate-papo, que você confere a seguir.

Rick é técnico-administrativo e desenvolve pesquisas que colaboram com a construção do conhecimento dentro da UFU. ( Imagem: Guilherme Gonçalves)

Comunicação SINTET-UFU: Quando os temas das publicações surgiram?

Rick: No mestrado, com o intuito de conhecer a região do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, em um trabalho de resgate e tentativa de explicar o desenvolvimento dessa região ao longo do tempo. E tentando evidenciar as desigualdades, os períodos em que os municípios se destacaram em âmbitos populacionais e critérios econômicos. Já em um segundo momento, dadas as desigualdades regionais percebidas, quais as expectativas de os municípios alterarem sua realidade. Uma economia menos desenvolvida próxima de um município economicamente mais desenvolvido consegue deslumbrar um crescimento maior? A partir disso fui falar das capacidades de investimento e a autonomia dos municípios em promover esse crescimento.

CS: Então a ideia surgiu dessa preocupação sua com o desenvolvimento dos municípios?

R: O CEPES é formado por um grupo de economistas e somos todos técnicos-administrativos economistas. Nós temos também no quadro assistente em administração e outras funções, principalmente, na coleta de dados. Então, basicamente podemos dizer que temos dois grupos. Um mais envolvido com pesquisa, redação e produção de pesquisa. E outro mais envolvido na parte de apoio a pesquisa, mais dentro dessa linha do Índice de Preços ao Consumidor (IPC).

Esse trabalho publicado recentemente pelo CEPES fala sobre o município de Uberlândia. É um painel de informações municipais que anualmente, na véspera do aniversário de Uberlândia trazemos informações atualizadas do município. Alguns recortes a partir das análises dessas bases de dados, recortes especiais levantando alguma temática. A parte de trabalho deu enfoque ao desemprego em período de crise econômica. A parte de finanças públicas municipais deu um olhar para a principal fonte de despesa municipal, que é a saúde pública. Então foram alguns recortes específicos assim.

CS: Quais as fontes dos dados analisados?

R: Os dados são produzidos a partir do município. O perfil demográfico é fruto do CENSO. Então vai ter uma análise sobre o CENSO. Uma análise sobre estimativas e cálculos sobre estimativas que o pesquisador fez selecionando alguns parâmetros com base na análise.

Na parte de Produto Interno Bruto (PIB) os dados analisados são fornecidos também pelo próprio município a partir de informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Pra parte de trabalho os dados são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), que é um dado oficial do Ministério do Trabalho e acompanha o número de vínculos, de novos vínculos e perda de vínculos empregatícios.

CS: Quais os frutos que esse tipo de trabalho pode trazer pra sociedade?

R: Essas informações são acessadas por estudantes, por professores aqui da UFU, e por diversas outras pessoas que tem interesse no assunto, pois é uma comodidade, uma vez que nem sempre trabalham com esses dados o tempo todo. Um professor que está atuando aqui mesmo no curso de economia, ou professor de ensino médio que está em aula, ter esses dados de um relatório elaborado de forma contínua é um conforto para poder acompanhar as informações mais atuais.

Isso para o professor. Já para o pesquisador traz um ganho que abre perspectivas de pesquisas. Esses dados estão disponíveis aqui e a gente consegue ter uma interlocução com os estudantes que procuram para auxílio.

Pra comunidade de forma geral a prefeitura pode olhar isso de uma forma, vai poder dimensionar, ter uma leitura sobre esses dados. Pode trazer um novo recorte e visão sobre os números. A imprensa nos procura muito pra acompanhar esses dados. Na parte de comércio exterior falar quais são os principais parceiros de Uberlândia. O que a gente exporta, o que a gente importa.

Na fase de decisão, um gestor vai olhar esses números que podem indicar para uma ação que ele queira tomar.

Outro exemplo que esse trabalho demográfico mostra é que a população da faixa etária de 0 a 14 anos tem reduzido. Se olhar a população de 2010 nessa faixa etária é menor do que essa população de 2000. Então, ao ver essa informação, quem tiver com a intenção de abrir uma escola infantil vai repensar ao ver esses números e redimensionar o mercado. Será que tem tanta possibilidade mercadológica assim?

Outra pessoa que olha e vê que a população idosa próxima a faixa dos 80 anos tem ampliado muito, quase dobrando entre 2000 e 2010 e está numa expectativa de crescimento ainda. Uma pessoa pode olhar e ver a possiblidade de montar um negócio direcionado para essa faixa etária. A administração pública vai olhar isso e pensar no redimensionamento de sua estrutura de suporte para essa população. E ao mesmo tempo a estrutura que a população de crianças, que está reduzindo, vai ter. Então são transformações que podem acontecer a partir desses dados.

Algumas publicações feitas por técnicos-administrativos do Centro de Estudos, Pesquisas e Projetos Econômicos-Sociais (CEPES). (Imagem: Guilherme Gonçalves)

CS: O que o desenvolvimento de pesquisas pode proporcionar para a carreira do técnico-administrativo?

R: De uma forma geral é a possibilidade de desenvolvimento amplo do ser-humano. A gente trabalha e exerce a curiosidade. Desenvolve o exercício do conhecimento e saber. É a possibilidade de realizar mestrado e doutorado e avançar na carreira em toda a sua completude. É um ganho para o servidor poder desfrutar de todo o potencial que a carreira possibilita. E os trabalhos ainda são um retorno para a sociedade que também se beneficia do desenvolvimento de pesquisas.

As pessoas que se formam aqui na universidade acabam tendo inserções diversas. Algumas pessoas que já foram pesquisadoras aqui do CEPES já foram pró-reitores, diretores, prefeitos de campus, diretores de compras da prefeitura municipal, secretários municipais de finanças. Então trabalhar com essas bases de dados vai trazendo um grau de conhecimento e traz oportunidades de trabalho fora do ambiente universitário, que poderiam ser oferecidas para outros profissionais, ou para pessoas que tem outras inserções de carreira. O conhecimento agregado abre portas para outras áreas.

CS: Qual o último recado que você gostaria de deixar registrado sobre o trabalho?

R: O momento. Acredito que estamos em um momento de transformações na carreira do técnico-administrativo. E essa iniciativa do SINTET-UFU de destacar que somos técnicos, que a universidade tem um conjunto de profissionais de diversas áreas do conhecimento. Que dentro da universidade há uma engrenagem que faz a instituição funcionar. Que tem o professor em sala, mas também tem o técnico-administrativo fazendo o sistema funcionar e que faz pesquisas rotineiras como essa que lançamos recentemente. Levar o conhecimento para a população acho que é importante, principalmente, pra reforçar não o interesse de classe, mas sim dar o reconhecimento a esses profissionais.

10 de dezembro de 2018