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1964: a ditadura que nunca acabou

 

Por Raissa Dantas

 

A última quarta-feira, 27 de junho, foi muito além do que a vitória brasileira em campo na Copa do Mundo, pelo menos praquelas e aqueles que prestigiaram e foram presenteados com uma grande noite de reflexões, debates e memórias do grande Carlos Eugênio Paz, o Clemente, ex-comandante da Ação Libertadora Nacional (ALN). Por volta das 19h30, no anfiteatro do bloco 3Q, nos reunimos com o grande camarada que empunhou, escreveu e construiu as páginas de resistência, luta e coragem da esquerda brasileira frente à Ditadura Militar.

Com a temática de “Maio de 1968: o que temos a aprender com o ano que não terminou?”, Clemente foi categórico já nos primeiros minutos de sua fala, com uma sinceridade rasgada, como é conhecido. Ele afirmou que “68 terminou sim, depois de 68 veio 69, depois de 69, 70, 71, 72, 73, eu mesmo saí daqui só em 73. (…) Primeiro é debochar da história (afirmar que 1986 não terminou), segundo é tirar a dramaticidade que foi viver durante 20 anos uma ditadura militar. Aí começa aquela história: ‘foi ditadura militar ou civil militar?’. Foi militar mesmo, porque os civis ficaram danados que acharam que os militares iam tomar o poder e iam dar pra eles. Agora, a serviço de que classes? É isso que é importante. A serviço do latifúndio, que hoje é o agronegócio; a serviço do capital financeiro, quer dizer, os bancos; e a serviço do capital industrial. Ué, eu falei de agora ou eu falei dos anos 60? Porque hoje em dia continua no poder o agronegócio, o capital financeiro e o capital industrial. (…) Então eu prefiro dizer 1964, a ditadura que nunca acabou”.

Carlos Eugênio, muito lúcido e com uma memória impecável, traçou idas e vindas de sua história e da trajetória do Brasil, da Ditadura Militar e da contemporaneidade, resgatando camaradas da ALN torturados e mortos pela Ditadura e traçando o paralelo com Cláudia Silva Ferreira, Amarildo, Marielle Franco, Marcos Vinícius e tantas e tantos outros pretos, pobres e periféricos que continuamente são executados, torturados e desaparecidos pelas mãos do Estado, herdeiro do sistema político instituído pelos Militares. Nas palavras de Clemente, “é isso que estamos vivendo 50 anos após 1968”.

O público presente no debate participou intensamente com intervenções, dúvidas e comentários, que levaram o debate até quase 23h. O SINTET-UFU, na figura de Mário Guimarães Júnior, foi muito elogiado pela iniciativa, que não aconteceria sem a contribuição do camarada Wilson Santos. O coordenador geral do sindicato deixou a intenção de que o SINTET-UFU realize o lançamento do livro “Mulheres da ALN”, de Maria Claudia Badan Ribeiro e, ainda, de realizar outros debates com a presença de Clemente.

Assista na íntegra:

29 de junho de 2018